Case Study: Felicidade no Local de Trabalho - Parte 1
BY INÊS LOPES, BUSINESS & MARKETING | 15/10/2020
Se não formos felizes no trabalho, como podemos ser felizes de todo?
É um dos grandes temas do momento: toda a gente fala da felicidade no trabalho.
Naturalmente, digo eu, que passo metade da minha vida a trabalhar - “Se não formos felizes no trabalho, como podemos ser felizes de todo? “
Dizemos que trabalhar está vinculado a uma questão existencial do ser humano: a busca pela sua humanização e cidadania. É através do trabalho que o Homem se realiza, é aí que encontra a sua possibilidade de impactar o mundo, de dar forma aos seus talentos e é, também, onde tem a maior oportunidade de sentir que está a contribuir para uma causa maior. É quase óbvio que trabalhar tem um papel fundamental no bem-estar do ser humano. O trabalho tem o potencial de elevar a condição humana.
Mas será isto verdade para todas as pessoas, para todas as organizações?
Em termos genéricos, acredito que a felicidade é responsabilidade de cada um mas, neste caso específico, as organizações têm um papel fundamental nesta construção que é a felicidade no trabalho.
Uma cultura de felicidade no trabalho não está apenas ligada à responsabilidade que cada organização tem para com os seus colaboradores, é do seu interesse que todos os indivíduos estejam felizes, considerando que só assim se poderá garantir que cada um estará disponível para trabalhar na amplitude máxima do seu potencial natural e contribuir plenamente para o sucesso da empresa.
Em última instância, baseados na melhor opinião científica, estamos a falar de um poderoso diferencial competitivo no mercado em que cada organização está inserida.
Bom, e falar sobre Felicidade Organizacional, é falar de quê?
Pequeno-almoço na empresa? Happy Hour? Remuneração atrativa? Yoga Time? Casual Friday?
Pode ser tudo isto, mas é muito mais.
Podíamos falar sobre a necessidade de definição clara do papel do colaborador, de lhe atribuir tarefas e projetos desafiantes, de promover oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento, medidas de conciliação trabalho-família, transparência nos procedimentos de avaliação de desempenho e progressão na carreira, adoção de procedimentos dignos e respeitadores, uma liderança que pratique a autenticidade, etc.
Todas estas medidas são válidas, mas também serão ocas se não estiverem ligadas por uma linha condutora forte, que una tudo numa estratégia, numa visão, num conjunto de valores que se traduzam na criação de uma cultura organizacional forte, padronizada, transversal, que se prolonga no tempo e com a qual os colaboradores se possam identificar.
Na verdade, acredito que tudo isto concorre para um objetivo geral, mais importante que todos os outros e que justifica todos os esforços: um ambiente pleno de Confiança.
A confiança é um conceito que advém da experiência: depende do histórico que temos com alguém ou alguma coisa. Se, no passado, fomos mordidos por um cão, provavelmente desenvolveremos mais propensão para não confiar em cães. Bastante simples, certo?
A confiança advém também do comportamento observado e da coerência entre o que se diz e o que se faz, num continuum que corrobora um padrão esperado e valores compartilhados percebidos.
De forma geral, traduz-se numa expectativa, no seio de uma comunidade, de comportamento estável, honesto e cooperativo, que é potenciadora de um sentimento de segurança.
É na criação desta rede de confiança que as organizações mais devem apostar e que emerge quando toda a sua cultura se alinha com a sua missão, estratégia e objetivos.
É uma escolha que a organização faz de proceder de acordo com o que defende, de forma consistente, em todas as circunstâncias e repetidamente. Digamos que é o seu lifestyle.
Nas empresas, assim como na raça humana, aquilo que funda a vantagem competitiva não é ser a mais forte ou a maior, é, sim, a sua propensão para criar uma cultura coesa, de reunir um conjunto de pessoas em torno de um conjunto de valores e crenças dando-lhes motivos para confiar que, na generalidade, todos se vão comportar de forma alinhada com esses valores e vão escolher fazer o que está certo para a sua comunidade em todas as circunstâncias.
É esta a centelha que nos permitiu sair da toca e ir à caça enquanto o resto da comunidade nos protegia a casa e os filhos.
É esta centelha que faz com que os colaboradores deixem as suas casas, os seus filhos, e durante metade da sua vida “vistam a camisola” de uma organização e a defendam com unhas e dentes.
Para uma organização, a criação desta cultura forte com a qual os seus colaboradores se identificam e na qual podem confiar - porque essa cultura ressoa em todas as medidas adotadas, em todos os procedimentos da organização, em todos os produtos e serviços e em tudo o que se faz - é o que garante que são criadas redes vigorosas de cooperação e laços de confiança que se traduzem em pessoas mais otimistas, resilientes, seguras e, eventualmente, mais felizes. Pessoas que sentem que estão a contribuir, de forma sistemática, para uma causa maior.